Como surge o
profeta Gentileza
No dia 17 de dezembro de 1961, na cidade de Niterói, houve um grande incêndio no circo
"Gran Circus
Norte-Americano" que foi chamado de Tragédia do Gran Circus Norte-Americano e
considerado uma das maiores fatalidades em todo o mundo circense. Neste
incêndio morreram mais de 500 pessoas, a maioria, crianças. Na antevéspera do Natal, seis dias após o acontecimento, José
acordou alegando ter ouvido "vozes astrais", segundo suas próprias
palavras, que o mandavam abandonar o mundo material e se dedicar apenas ao
mundo espiritual. O Profeta pegou
um de seus caminhões e foi para o local do incêndio onde hoje encontra-se a
Policlínica Militar de Niterói. Plantou jardim e horta sobre as cinzas do circo em Niterói, local que um dia foi palco de
tantas alegrias, mas também de muita tristeza. Aquela foi sua morada por quatro
anos. Lá, José Datrino incutiu nas pessoas o real sentido das palavras Agradecido
e Gentileza. Foi um consolador voluntário, que confortou os familiares
das vítimas da tragédia com suas palavras de bondade. Daquele dia em diante,
passou a se chamar "José Agradecido", ou "Profeta
Gentileza".
Contrariando a
lenda popular, Gentileza sempre reafirmava: "Sou papai de cinco filhos,
três femininos e dois masculinos, não perdi ninguém no incêndio do circo!"
Após deixar o local
que foi denominado "Paraíso Gentileza", o profeta Gentileza começou a
sua jornada como personagem andarilho. A partir de 1970 percorreu toda a cidade. Era visto em
ruas, praças, nas barcas da travessia entre as cidades do Rio de Janeiro e
Niterói, em trens e ônibus, fazendo sua pregação e levando palavras de amor,
bondade e respeito pelo próximo e pela natureza a todos que cruzassem seu
caminho. Aos que o chamavam de louco, ele respondia: - "Sou maluco para
te amar e louco para te salvar".
Entretanto, um
artigo de autoria da professora Luiza Petersen e do jornalista e escritor
Marcelo Câmara, que conviveram com Datrino ("Jornal do Brasil" de
21/02/2010) e rebatido por outro artigo publicado no Jornal do Brasil afirma que ele, apesar de falar em gentileza
como um mantra, era "agressivo, moralista e desbocado [...] Vociferava,
ofendia e ameaçava espancar transeuntes", ao ponto de às vezes ser
necessário chamar a polícia para acalmá-lo. "Suas principais vítimas eram
as mulheres de minissaia ou com calças apertadas, de cabelos curtos, que usavam
maquiagem, salto alto e adereços [...] A maioria da população, especialmente as
mulheres e crianças, fugia dele". A imagem que se criou dele após sua
morte, segundo os autores, não corresponde às lembranças dos que conviveram com
ele durante os anos 1960 e 1970.
A partir de 1980, escolheu 56 pilastras do Viaduto do Caju, que vai do Cemitério do Caju
até a Rodoviária Novo Rio, numa extensão de aproximadamente 1,5 km. Ele
encheu as pilastras do viaduto com
inscrições em verde-amarelo propondo sua crítica do mundo e sua alternativa ao
mal-estar da civilização.
Durante a Eco-92, o Profeta Gentileza colocava-se
estrategicamente no lugar por onde passavam os representantes dos povos e
incitava-os a viverem a gentileza e a aplicarem gentileza em toda a Terra.
Após sua morte
Em 28 de maio de 1996, aos 79 anos, faleceu em Mirandópolis,
cidade de seus familiares, onde foi sepultado.
Com o decorrer dos
anos, os murais foram danificados por pichadores, sofreram vandalismo, e mais
tarde cobertos com tinta de cor cinza. A eliminação das inscrições foi
criticada e posteriormente com ajuda da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro,
foi organizado o projeto Rio com Gentileza, com o objetivo restaurar os
murais das pilastras. Começaram a ser recuperadas em janeiro de 1999. Em maio de 2000, a restauração das
inscrições foi concluída e o patrimônio urbano carioca foi preservado.
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